segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Um time do povo para o povo!



São Paulo, 1910. O que mais, além da passagem do cometa Halley, poderia acontecer nesse começo de século? Pois bem, a resposta hoje é conhecida: um time de futebol. Mas não pura e simplismente um time de futebol, e sim uma verdadeira religião, que arrebata milhões de corações apaixonados e alucinados ao redor dos quatros cantos do mundo: um amor chamado Corinthians. A história começa no bairro do Bom Reito em São Paulo, onde montar um time de futebol, esporte até então praticado pelas elites, era o assunto preferido de dez entre dez funcionários da estrada de ferro São Paulo Railway. E esse sentimento também tomava conta dos moradores simples do bairro, tanto que os pintores de parede Antônio Pereira e Joaquim Ambrósio, em conjunto com o sapateiro Rafael Perrone, o motorista Anselmo Correia e o trabalhador braçal Carlos Silva, decidiram se juntar para criar um time de futebol que pudesse praticar o nobre esporte sem perder suas raízes da massa, do povo humilde trabalhador ao qual pertenciam. As ideias e sugestões começaram a passar pela cabeça dos desbravadores. Nomes como Carlos Gomes e Santos Dumont foram falados, mas a escolha certa surgiu quando o Corinthian Team, o melhor time da Inglaterra, veio excursionar em terras tupiniquins a convite do Fluminense do Rio de Janeiro. O Corinthian, esbanjando toda a maestria de representante do país inventor do futebol, conquistou seis vitórias maiúsculas em seu giro pelo Brasil, como os 10 a 1 em cima do Fluminense, 8 a 1 em um combinado carioca, 5 a 2 em um combinado de brasileiros. Os cinco amigos do Bom Retiro foram a um jogo (31/08/1910) do Corinthian contra a Associação Atlética das Palmeiras, no campo do Velódromo. Maravilhado com a atuação de galo do Corinthian inglês, Joaquim sugeriu: Porque não chamarmos o nosso time de Corinthians? (com a letra "s" no final). Pronto, estava decidido o nome da equipe. Assim os cinco amigos, ao lado de outros oito pioneiros, na esquina da rua dos Italianos com a rua José Paulino, sob a luz de um lampião, fundaram o Sport Club Corinthians Paulista (01/09/1910). A diretoria do clube ficou assim definida: Miguel Bataglia (presidente), Salvador Lapomo e Alexandre Magnani (vice-presidente), Antônio Alves Nunes (secretário), João da Silva (tesoureiro) e Carlos Silva (procurador-geral). O local onde se oficializou a fundação do Corinthians foi a casa do presidente Miguel Bataglia, mas o lugar onde o time foi sonhado e idealizado foi o salão de barbeiro pertencente a Salvador Bataglia, irmão de Miguel, localizado na época na rua Júlio Conceição, esquina com a rua dos Italianos. Mas para um time poder jogar são necessárias algumas coisas, entre elas uma bola e um campo, além do uniforme. A primeira bola foi comprada na rua São Caetano por seis mil-réis, graças a uma "vaquinha" realizada entre os moradores do bairro. O terreno para o campo foi cedido por um vendedor de madeiras, que transformou um "lenheiro" em campo de futebol ▬ este recebeu, por razões óbvias, o apelido de "Campo do Lenheiro". As precárias condições do local obrigavam os próprios jogadores a aplainar e limpar o terreno baldio antes dos jogos. O uniforme escolhido foi camisa bege com calção preto, em alusão às cores do Corinthian Team (fato inusitado, pois o Corinthian inglês utilizava calções azul-escuros e não pretos), porém devido à dificuldade de se conseguir calções pretos o time utilizou calções brancos. O primeiro jogo do Corinthians aconteceu em 10 de setembro de 1910, no campo da Várzea da Lapa em São Paulo, contra o temido União da Lapa, um verdadeiro "bicho-papão" da várzea paulistana. O União da Lapa havia sido fundado em 1908 no bairro da Lapa, lugar onde o futebol varzeano mais se desenvolvia na cidade. O jogo acabou com um magro 1 a 0 para o União da Lapa. Na partida seguinte, quatro dias depois, contra o Estrela Polar, no campo da rua dos Imigrantes (atual rua José Paulino), o Corinthians consolidou sua primeira vitória. O italiano Luiz Fabbi Filho (02/05/1890, Parma; 03/11/1966, São Paulo) abriu o marcador, tornando-se o primeiro jogador da história a marcar um gol com a camisa do Corinthians. Na sequência, Jorge Campbell fez o seguindo gol e o Corinthians enfrentou novamente o União da Lapa, mas desta vez, na revanche, o time não fez por menos e sapecou 3x1 no ex-"bicho-papão" da várzea.

Créditos: André Martinez

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