quinta-feira, 3 de novembro de 2011
[Texto] O vento da noite em Itaquera: teu presente é uma lição. (por Walter Falceta Jr.)
Noite na Zona Leste, este pedaço digno do país, terra de gente laboriosa, de mães carinhosas, de pais pra lá de responsáveis.
Noite na Zona Leste dos descendentes de italianos que, do Bom Retiro, vieram povoar a antiga fazenda do Conselheiro Carrão.
Noite na Zona Leste dos japoneses que vieram ocupar o Vale do Arincaduva e formar as comunidades do “pêssego”.
Noite na Zona Leste dos lusitanos, que vieram aqui produzir o mais saboroso pão do país, da Praça Silvio Romero à Alameda Rainha Santa.
Noite na Zona Leste, dos lituanos que nos ensinaram o sabor de krupnikas e agurcas na Vila Zelina.
Noite na Zona Leste, dos croatas que botaram oficinas nas franjas da Água Rasa.
Noite na Zona Leste, de espanhóis malaguetas como o padre Rosalvino, que dedica a vida a prover educação e cultura para os jovens de Itaquera.
Noite na Zona Leste, em que se ouve, aqui e ali, um baião nostálgico, um carimbó da raiz, rolando nos lares dos irmãos do Nordeste e do Norte.
Noite na Zona Leste, fria por desatino do clima, mas iluminada aqui e ali, por holofotes tão alvos, que lembram os dentes lindos das nossas filhas de Angola.
Ali, numa depressão recortada do terreno, vai crescendo noturnamente um sonho, vai prosperando um direito, vai vingando a ideia de uma nação em que a riqueza se compartilha, se desconcentra.
Do conjunto habitacional, lá no alto, vê-se o movimento de operários formigas. Sente-se a presença de um vento gelado que não os desarma nem entristece.
Em quase silêncio, a Zona Leste, tão miscigenadamente brasileira, vai rompendo paradigmas, incluindo, cooperando na batida do martelo e no giro do parafuso.
Sob luz escassa, a Zona Leste começa a provar que a tal “isenção” nada mais é que investimento justo, que tem direito ao recurso legítimo que por século foi negado ao povo.
Há um lume de festa, faiscado, mas é o lume de um maçarico, que faz casar um fio de aço com outro, no nascimento da estrutura.
Sabe-se lá de onde, sopra um perfume de “cestrum nocturnum”, denominação empolada para a dama-da-noite.
Em algum lugar, há alguém descontente, infeliz, procurando criminalizar o espírito empreendedor, a faina dos humildes. Sempre haverá.
Um inverno de ar transumante, estranho, atravessa o ABC, envereda pela Vila Prudente, tromba na Mooca, gira na Vila Formosa, esgueira-se por São Mateus, enfia-se pela Cidade Líder e vem aqui, bisbilhotar a construção.
Seja bem-vindo. Se nós te aquecemos na fogueirinha, aproveita e faz tremular nossa bandeira.
Walter Falceta Jr.
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Lindo! Lindo! Lindo!
ResponderExcluirEmoção e poesia para definir a alma do povo laborioso da Zona Leste.
Arrepiei e me emocionei. Parabéns!