quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Democracia Corinthiana

Democracia Corinthiana
A chamada Democracia Corintiana caracterizou-se por um período em que os jogadores do Corinthians participavam ativamente das decisões do clube. De 1981 a 1985, todos os assuntos relacionados ao elenco, desde a concentração, contratações e sistema de jogo, eram definidos por voto. A existência deste movimento tornou-se possível através da união de interesses dos jogadores, cujos principais representantes eram Sócrates, Wladimir e Casagrande; a diretoria, era representada pelo sociólogo Adilson Monteiro Alves e a comissão técnica, por Mario Travaglini. Todas estas ações ocorriam dentro do contexto social que se caracterizava pela abertura política do país. A campanha do clube no ano de 1981 foi uma das piores da sua história, quando terminou na 26ª posição do Campeonato Brasileiro e 8º lugar no Campeonato Paulista. Nesta época os campeonatos estaduais definiam a classificação para o campeonato nacional, fazendo assim, com que o Corinthians disputasse a segunda divisão do Brasileiro de 1982. Dentre outros motivos para a conturbada situação em que o clube se encontrava, surgia o nome de seu presidente, Vicente Matheus, que desde 1959, alternava com outros dirigentes a tutela do clube. Sua importância no processo está na descrição que nos dá Ricardo Gozzi, no livro Democracia Corintiana – A Utopia em Jogo:
“Porém seria impossível compreender a Democracia Corintiana sem saber o que se passou no clube nos anos que a antecederam, especialmente nos quase dez anos consecutivos durante os quais Vicente Matheus ocupou ininterruptamente a presidência do Corinthians... Centralizador e paternalista, considerado um símbolo pela maior parte dos torcedores corintianos, Matheus era um dos mais ferozes inimigos da abertura. Com simplicidade e inteligência, pulso firme e declarações folclóricas atribuídas a sua falta de estudo, em muitas ocasiões chegou a tirar dinheiro do próprio bolso para contratar jogadores. Seus adversários nunca ousaram acusa-lo de utilizar o clube para enriquecer ou se promover... Mas individualista e um tanto prepotente, o folclórico presidente do clube entendia pouco de liberdade. Comandava o Corinthians com mão-de-ferro. Certa vez ao comentar seu estilo de administração, declarou : “o Corinthians é uma ditadura mole!” Quando derrotado politicamente no clube, recorria à Justiça. As renovações de contratos dos atletas transformavam-se em verdadeiras novelas. Autoproclamava-se uma espécie de “defensor dos direitos do Corinthians”.
Paralelamente a participação do Corinthians na competição, acontecia à campanha para a eleição para a presidência do clube. Na época, as eleições se realizavam a cada dois anos, sempre em anos ímpares. Votavam alternadamente conselheiros e associados. Como no ano de 1979 Matheus manteve-se na presidência pelos associados, dois anos depois a presidência do clube seria votada pelos conselheiros. Assim, naquele ano, Matheus não teria elementos suficientes para contornar o estatuto e reeleger-se, conforme orientação de seu advogado. Lança-se então, candidato à vice-presidência pela chapa de Waldemar Pires:
Em 9 de abril de 1981 – somente quatro dias depois da eliminação do Corinthians no Campeonato Brasileiro – os membros do conselho foram às urnas e elegeram Pires presidente do Corinthians. Vice presidente de Matheus nas gestões de 1977 e 1979, Pires encabeçou a chapa nas eleições de 1981. A ordem fora invertida. Pires para presidente, Matheus para vice. Pires era visto pela oposição e pela imprensa apenas como um “laranja” da situação. Uma espécie de testa-de-ferro de Matheus
Logo, começaram as especulações sobre quem realmente mandava no clube. Cogitava-se que Matheus é quem daria as ordens e que Pires somente figuraria na presidência. No entanto, Pires começa seu processo administrativo:
Tudo indicava que Matheus prosseguiria no poder pelo menos mais dois anos. Mas não foi assim que aconteceu. Durante a campanha, Matheus prometia dedicar-se a sede social do clube e setores desligados do futebol profissional. Porém durante os primeiros meses da nova gestão, Matheus tentava interferir em todas as decisões a cargo do novo presidente (...) ‘‘O Matheus era meu vice-presidente, mas centralizava muito. Ele queria mandar como se fosse presidente. Então eu me vi obrigado a tomar Atitude’’, conta Pires, o presidente que meses mais tarde criaria a abertura necessária para o estabelecimento da Democracia Corintiana... Insatisfeito com a nova realidade, na qual seu poder não era mais absoluto, Matheus passou afastar-se lentamente de suas funções no clube. Após passar quase uma década na presidência do Corinthians sem a interferência de ninguém, Matheus voltava a cuidar pessoalmente dos negócios em sua pavimentadora, cujo escritório localizava a poucos metros do clube.


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